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Oxumarê - O SENHOR DO ARCO-ÍRIS

16/08/2012 09:09

OXUMARÊ O SENHOR DO ARCO IRIS.

 

 

 

 

OXUMARÊ O SENHOR DO ARCO IRIS.

É a única divindade que traz em seu nome a raiz do nome de OLODUNMARÊ, o Criador - o sufixo MARÊ significa "Aquele que sempre é", "Aquele que tem autoridade sobre tudo o que há no céu e na terra e é incomparável", "Aquele que é absolutamente perfeito", "Supremo em qualidades".

Ao sufixo MARÊ, acrescente-se o prefixo EXU ou OXU. Qualquer uma das formas é igualmente designada para chamá-lo. Se adotarmos o prefixo EXU, significando princípio dinâmico de realização, temos OXUMARÊ como o detentor de um princípio dinâmico de realização que tem autoridade, ou ação, sobre tudo o que há no céu e na terra; que sempre existiu, existe e existirá, num conceito de eternidade muito próprio dos Iorubás, para quem o fim do mundo é inconcebível.

O significado do nome EXUMARÊ referencia diretamente o próprio papel desse EBORA, na manifestação e execução do projeto de OLODUNMARÊ, através do qual o axé se esparrama pela terra, enquanto poder de realização, garantindo através de EXUMARÊ  os ciclos em que se operam cada etapa de transformações inerentes ao ritmo da vida, em seu movimento bipolar de fluxo e refluxo, a garantir a continuidade da existência.

Nos dizeres de um provérbio Iorubá: KI LO YO LOJU ORUN, ESUMARE YO LOJU ORUN, ou seja, "O que aparece nos olhos de DEUS? EXUMARÊ aparece nos olhos de DEUS".

Esse significado de dinâmica da transformação através dos ciclos, da mesma forma é encontrado ao utilizarmos o prefixo OSU no nome de EXUMARÊ. OSU, em tradução isolada significa mês, definidor de um ciclo de semanas ou, mais apropriadamente, de um ciclo lunar, outro derivativo de OSU, OSUPA - Lua, onde estão novamente presentes ciclos, os lunares - lua cheia, quarto minguante, lua nova e quarto crescente - definindo o fluxo e refluxo das marés, pelos quais orienta-se a pesca e a caça.
Em alguns lugares da África através de OXUMARÊ  é cultuado OLOJO, o Senhor do Tempo, cujas oferendas somente são oferecidas após manifestação de OXUMARÊ  e para o qual são reservadas as saudações :

OLOJO ONI, IBA O O! "Senhor do Tempo, eu te saúdo!" ou "Senhor de hoje, deste momento, eu te saúdo!". Como se os ciclos fossem gênero do qual o tempo é espécie, ou apenas medida.

Entre os Iorubas, simbolicamente OXUMARÊ  é representado pela chuva e sol simultâneos, acontecimento sinônimo de extrema fertilidade da terra, justificando a afirmação de estar o axé de OLODUNMARÊ se esparramando por sobre a terra através de OXUMARÊ .

No Brasil, a primeira imagem desse fenômeno é o arco-íris, justamente resultante da refração da luz do sol sobre a chuva, de fácil associação abstrata, de significado mais prático, associado ao seu produto imediato, a fertilidade, o poder de realização no germinar da semente, cuja importância fica transparente em outro ditado Ioruba:
OJO N’RO O, OORUN IRO, IJO NA LEKUN ME BE, ou seja, "Faz chuva, faz sol, hoje o leão vai procriar".

O conteúdo simbólico do arco-íris, porém, não se esvazia frente a importância do significado prático da explicação do fenômeno. Pelo contrário, tem sua qualidade evidente com a visualização desse arco-íris como ligação entre o aiye e o orun.

O processo pode ser descrito como a formação de um círculo onde, em semicírculo, sai da terra, toca o céu e retorna à terra, continuando em direção ao seu centro, em outro semi-círculo, até sair novamente em direção ao céu, quando então acaba por completar um círculo.

Círculo como aquele formado pela cobra que morde seu próprio rabo, outro símbolo de OXUMARÊ, círculo demarcador de ciclos, desde o aproveitamento da água da chuva, condutora dos nutrientes minerais da terra, até o ciclo da vida, num processo que se origina no orun, se realiza no aiye e cuja morte fornece à terra a realimentação do sistema, produzindo matéria prima capaz de gerar novas vidas.

Um Itan ODU que relata a chegada dos ORISA e EBORA ao aiye nos diz que OXUMARÊ chega ao mundo visível trazido pelo ODU OGBE OYEKU.

Este ODU é composto pelos ODU EJIOGBE e OYEKU. Enquanto EJIOGBE está associado ao dia, ao elemento masculino, à luz e ao mundo dos vivos, OYEKU está associado à noite, ao elemento feminino, às trevas e ao mundo dos mortos.

Isso, sem dúvida, vem confirmar a associação de OXUMARÊ aos ciclos, à bipolaridade e ao fluxo de transformações. Talvez esteja nesta bipolaridade a explicação para o fato de OXUMARÊ, no Brasil, ser visto como de dupla sexualidade, ora masculino, ora feminino, confundindo-se desta forma gênero (masculino/feminino) com sexualidade.

Na África, ao se encontrar pequena partícula de uma pedra constituída do metal mercúrio misturada a outros minerais, principalmente ferro, essa pedra é colocada na água parada onde dispara em movimento oscilatório ondular, avermelhando a água e mimetizando o movimento da cobra.

Esse fenômeno é chamado de EMI-OXUMARÊ  e considera-se o momento natural da presença de OXUMARÊ  na terra. Isso é visto com muita alegria e reverência, sendo utilizado em trabalhos para atrair progresso para as pessoas.

É importante ressaltar ainda outro fator significativo a respeito de OXUMARÊ.

Em algumas regiões da África ele é considerado como uma qualidade de OMOLU e assim chamado JAWE, em outras OXUMARÊ  é considerado filho de OMOLU. Em qualquer das situações não podemos deixar de considerar que a tradução do nome de OMOLU é "o filho do Senhor", trazendo mais uma vez a idéia de uma relação particularmente especial de OXUMARÊ com OLODUNMARÊ.

 

NOTA: Escrevemos OXUMARÊ, por ter o S na língua iorubá o som de X, assim como ESÚ, que escrevemos EXÚ.

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